O BALÉ DAS BORBOLETAS.

Era noite…

Começo de noite na verdade. A avenida estava movimentada naquele momento, mais do que o de costume para o horário, buzinas, motos, faces emburradas atrás de volantes nervosos. Semáforo fechado, o que possibilitou-me atravessar a avenida tranquilamente, do outro lado, as lojas baixaram as suas portas o relógio passava das seis da tarde, a calçada esburacada exigia cuidados, passos desavisados e vacilantes poderiam leva-me a uma queda repentina, como muitas que já presenciei. Adentrei à escola de balé, que funciona na parte superior de uma loja agropecuária. Dois lances de escadas acima, a sala de espera revelava-se quase vazia.

E lá estava a bailarina, uma jovem professora ensinando suas dedicadas alunas. Os seus movimentos eram suaves, delicados, como o vôo das borboletas sobre as flores. Corpo esguio, cabelos longos, olhos negros, ela sorria as vezes, a professora parecia flutuar de um lado a outro do salão, a crianças estavam atentas, na ânsia de aprender o passo novo. A bailarina é exigente, cobra das alunas dedicação, repetidas vezes o mesmo passo, é preciso delicadeza, sorriso no rosto. Uma música é colocada ao fundo. E novamente os mesmos passos, agora todas juntas. Como é belo vê-las dançar. São como borboletas no Jardim.

E de repente, esqueço de tudo, de quem sou, do meu nome, do que faço, do motivo de estar ali. Esqueço de meus problemas, da violência da cidade, da ignorância do chefe, do mundo injusto, dos desamores. Esqueço tudo… Sou apenas um olhar, uma flor aguardando o beija-flor, ou, neste caso, o balé das borboletas.

Quando menos espero as horas foram embora, e me vejo novamente neste mundo cruel de impossibilidades.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 30/04/2022
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