SOLIDÃO DE TODOS OS DIAS.

Manhã de todos os dias.

Silencioso, o dia inicia quente, o cheiro do café toma toda a casa, não perco tempo...

Manhã de todos os dias, levanto-me apressadamente, lavo o rosto, escovo os dentes, tiro o pijama e coloco roupas leves, vou para a cozinha, o cheiro de café é na casa do vizinho, faço o meu sem muita demora, no mesmo silêncio anterior a todos os outros. Do lado de fora, a luz tímida do sol começa a percorrer o quintal alcançando a janela e em pequenos filetes escalando o exterior da casa.

Verdade seja dita, eu não gosto de todos os dias, são como os demais da semana, entretanto, existe qualquer coisa 'neste em específico' que não compreendo. Talvez seja o meu preconceito concebido de anos anteriores, das muitas vezes em que tudo era um tormento da primeira à última hora. Mas, esse tempo passou, restaram as lembranças perambulando no pensamento e as cicatrizes na alma. Às vezes, muito raramente eu diria, esse tipo de pensamento me assalta de momento, incomoda, a verdade é que não sei como me livrar dele, contudo, essa sensação passa… Sempre passa, porém, o silêncio de todos os dias fica... Sempre fica.

O ponteiro do relógio uma vez mais se arrasta, e os minutos mostram-se mais cruéis do que nunca, o silêncio e a ociosidade chegam ao extremo, e o desespero toma conta do meu ser, de meu coração, e da alma por inteira, eu quero tudo e nada ao mesmo tempo.

Lembrei-me do sonho que tive com o beija-flor na noite passada - não sei o motivo - àquele mesmo de sempre, a razão da lembrança foi devido à uma aparição que tive de um beija-flor em minha janela. Sobre o tal sonho, ele deu-se da seguinte maneira: Lá estamos nós, eu, e o beija-flor. Ela, ave majestosa, com todo o resplendor da sua beleza, sendo banhada pela luz do sol, em uma fração de instante aquela magnânima ave olimpiana transformou-se na mais bela donzela. O meu coração de pronto enlouqueceu, o fogo da paixão tomou-me por inteiro, o coração disparou no peito. Ao aproximar-se de mim ela banhou-me com o frescor de seu perfume, sua lívida face resplandecia, os olhos feiticeiros me hipnotizaram, os lábios divinamente esculpidos. Ah! Desejei-os de pronto, então, de repente, aqueles lábios de perfeição sugaram os meus em um ardente beijo, a seiva da minha vida se esvaiu, e me vi desfalecido aos seus pés...

Assim foi o sonho, embora pareça até que ainda estou sonhando; não sei quando me encontrarei com esse beija-flor novamente, eu o quero, o desejo, mas o beija-flor…Bom… Sempre foge, sempre voa. E os dias são de solidão perpétua, tenho apenas as lágrimas como companheiras, testemunhas da minha dor. Pretendo - assim eu acho - transformar minhas neuróticas imaginações relatos, como sempre faço nessas ocasiões. Quem sabe talvez, o meu ser se acalme, e o meu coração se ajuste à jaula desta prisão de ossos em todos os meus dias de solidão.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 27/04/2022
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