SEGREDO REVELADO.

Ela, o beija-flor, aquela mesma de outrora, veio novamente ao castelo de cristal, com toda sua beleza, com todo o seu esplendor, e como sempre faz, pousou em minha janela. O que fizeste a respeito caro poeta? Disse o pensamento. O que se diz em todo reino é que ela não aparece já há muitos anos, e a propósito, se realmente o que dissestes é verdade, qual o motivo do aparecimento dela, e como pode tal façanha sem que a tenhamos visto no rei no reino? Respondeu a consciência. Caríssimo amigo consciência, essa história não está muito bem contada, existem algumas variáveis não consideradas nessa complicada equação de nosso tempo passado, de sentimentos confusos. O quê, por Deus, não está muito bem contado, amigo pensamento? O que escondes de mim? E que variáveis são essas? Perdoe-me amigo… Perdoe por não ter lhe contado tudo antes. Como podes fazer tal! O que escondes afinal, de tão valioso? Insistiu a consciência. O beija-flor, dizia o pensamento, aquele mesmo de outrora, frequentemente aparece nesta torre, aos olhares dos demais súditos, e do próprio rei, aliás, o eu absoluto, ela é apenas uma ave voando nos entornos do castelo de seus olhos, pousando aqui e acolá. Mas saiba caríssimo, que essa ave majestosa, é, e sempre será ela, não se engane. Difícil explicar eu sei, um dia você vai entender caríssimo consciência. Escondeu de mim esse segredo muitíssimo bem amigo, pensamento, justamente eu, seu amigo mais leal, como podes! Acreditas em mim? Jamais duvidei de ti caríssimo, jamais, sabes disso, desde sua tenra idade, sempre acreditei em cada uma das tuas palavras, agora que és avançado em idade, eu continuo a acreditar, embora eu seja o único a crer. Eu sei meu amigo… Eu sei, mas tudo tem o seu tempo certo, em breve lhe explico tudo quanto aconteceu.

Por favor, conte-me o que aconteceu, conte-me agora pensamento, conte. Insistiu a consciência. Tudo bem… Eu conto. Obrigado pensamento, muitíssimo obrigado. Era novembro, eu bem me lembro, o jardim banhado em ondas de luz rodopiantes, o luar prateado por sobre a mata, os seres da noite fazendo serenata. Eu bem me lembro, daquele olhar reluzente, daqueles toques quentes despertando paixão. Eu bem me lembro, daquele nosso último novembro, quando o eu absoluto nos viu, no primeiro beijo juvenil, proibiu-me de vê-la enquanto vivesse, e aprisionou-me na torre. Foi então, caro amigo, que as fadas do primeiro reino imaginação, a meu pedido, tocadas por esse amor, com poderosa mágica em beija-flor a transformou. Lembra-te caro amigo, que quando crianças, quando alegre brincávamos, beija-flor era o seu apelido. A meu pedido, as fadas a transformaram em beija-flor. Santo Deus! Então foi esse o verdadeiro ocorrido, exclamou o pensamento… Eu que imaginei que ela tivesse sido levada pelos ladrões do reino do esquecimento. Para todos os efeitos, ela ainda foi levada, e peço-te, fiel consciência, que guardes este segredo enquanto existir. Prometo, vou guardar na minha própria memória, o segredo estará a salvo. Obrigado amigo, pode se retirar, desejo ficar na solidão. Sim amigo pensamento, como desejares.

É outono, dias ruins, e como todos os outros, nada tenho a fazer do que observar. Meus pensamentos e consciência são como o vento, como a brisa que sopra vindo do norte. O beija-flor, aquele mesmo de outrora, ainda não sabe todos os motivos que a transformou em ave, pretendo, se possível for, jamais revelar tal segredo.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 26/04/2022
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