A DANÇA DAS IDEIAS ou FREDERICO NÃO RESISTE AO BAILE

Na cabeça de Frederico, as ideias dançavam como a melhor das melhores das dançarinas. Ideias mortas de vida davam lugar a ideias vivas, e só vivas. Quisera ele livrar-se de todas elas. Não. Elas eram mais fortes, e dançavam tão bem! Cada ideia, um compasso, um passo. Frederico bebeu, de uma vez, todo o copo que estava em sua frente. Em um só gargalo. Exorcizaria cada uma daquelas ideias com vodka. Elas eram tão fortes e firmes que não resistiriam a alguns míseros miligramas de álcool no sangue. Ledo engano. No fundo, sabia: nem o álcool mais concentrado poderia fazê-lo. Sabia que, em pouco, não estaria sequer imune àquele baile; dançaria ele também, ao mesmo ritmo, com o mesmo compasso. Seria arrastado ao baile por aquelas ideias que não o abandonariam jamais! Mas foi mais rápido do que imaginou. A vodka o deixou um tanto alto. Sim, um tanto alto. E alto que estava, começou a rodopiar, e rodopiar; e rodopiando, sorriu um sorriso tão largo que começava e terminava em cada orelha. As ideias o conquistaram. Elas não só sabiam dançar; elas tinham sabor, cheiro, toque, tudo era, agora, irresistível. E Frederico se viu no começo do fim de tudo o que conhecera até ali.