... e o homem se transformou em um animal.
Canta-me, ó, musa, o trágico destino de Ésquilo, o maior dos dramaturgos helênicos.
Foi na era de ouro dos deuses do Olimpo. Ao saber que Ésquilo escrevera Prometeu Acorrentado, obra que faria seu autor tão respeitado quanto os deuses, Zeus, enciumado, decidiu fazê-lo sofrer pelos dias que lhe restavam de vida. Chamou o deus dos deuses Baco, e deu-lhe a ordem: "Deus do vinho, desça ao mundo dos mortais. Vá à residência do petulante, presunçoso Ésquilo, e tire-lhe o assento. E diga-lhe que se ele se sentar em qualquer outro assento, eu o enviarei ao reino de Hades. Vá!"
Baco, tão veloz quanto Mercúrio, desceu à terra dos homens; mas antes de rumar à residência de Ésquilo, foi a uma taberna, da qual se retirou, pra lá de Bagdá, soluçando, zonzo, a trançar as pernas, após sorver o conteúdo de quatro tonéis de vinho. E foi cumprir a ordem que recebera do deus supremo do Olimpo. Chegou à residência do êmulo de Sófocles, e sem se anunciar nela entrou, aproximou-se dele, e removeu-lhe o acento.
... e assim Ésquilo se transformou em um esquilo.