Remédios e galos
Chegado à ancianidade, cabelos grisalhos, poucos, a cobrir-lhe a cabeça, João, após um colapso cerebral, à recomendação do neurologista, passou a ingerir, todo dia, dois comprimidos de um medicamento de estímulo neurológico. Um dia, no rancho da sua casa, abriu o frasco de comprimidos, e foi, copo de vidro à mão, ao filtro, encheu de água o copo, tirou do frasco dois comprimidos, e assim que ouviu dois de seus galos se lhe aproximando, de papo vazio, lembrou-lhe que não lhes dera milhos. Foi até a vasilha de plástico cheia até à boca de milho, dela tirou uma "mãozada" de milho, e arremessou-a aos galos; assim que os grãos de milho caíram no chão, notou que entre eles estavam os dois comprimidos. Bateu os pés no chão, para afugentar os galos, mas já era tarde; eles, esfoemados, além dos grãos de milho, já haviam engolido os comprimidos. "Diacho!", exclamou João. "Peço a Deus que os galos não morram por causa dos comprimidos, que para mim são um santo remédio, mas para eles venenos, talvez." Deus atendeu às suas preces. No dia seguinte, os dois galos, para surpresa de João, além de não morrerem, resolveram dois problemas, um de trigonometria e um de juros compostos, e durante duas longas horas lucubraram acerca da origem da vida.