Passar

Ela se imaginava naquele vestido. Aquele vestido sob medida, e feito mesmo sob medida para limitar ao máximo seus movimentos. Imóvel, com os braços dobrados, parecendo aquelas bailarinas das caixas de música. E esperando...

Ela passou a mão no cabelo, torcido e levantado num coque. E o imaginou. Tingido, rebelde, solto, chamando todos os olhares e principalmente aquele olhar daquele menino quieto. Ela o imaginava chamando-a para sair. E se imaginava aceitando.

Ela se imaginava jovem, como foi á décadas atrás. Se antes se imaginava velha, acertou em todos os detalhes. Ou quase todos. Havia sido traída por seus planos. Finalmente tingiu o cabelo, mas para esconder seus fios brancos. Finalmente estava imobilizada, não pelo pesado vestido e sim pela fraqueza que a acompanhava. Ainda imaginava o menino quieto. Ele ainda estaria quieto? Ele ainda está?