Lembranças e um pé de manga
Eu, que vaguei por tantos lugares e conheci tantas almas, hoje estou só.
Olho pra dentro de mim e me vejo oca.
Visito algumas lembranças e me inundo de saudades.
Ao me olhar no espelho, quase não me reconheço. Meus olhos fundos e minhas rugas denunciam o passar do tempo.
Minha única visão é a proporcionada pela janela do quarto. Vejo o pé de manga, tão velho feito eu, e lembro de quando eu subia nele com meus irmãos, enquanto minha mãe chamava na varanda.
Todos se foram, menos o pé de manga.
A casa também é a mesma, mas tantas reformas acabaram apagando minha infância.
Não saio do quarto.
Carolina cuida de mim e cuida com muito gosto.
Carolina é minha única família, mesmo não tendo o mesmo sangue que eu.
Minha descendência parou em mim.
Sinto um cansaço terrível sobre meus ombros e falo no sentido literal.
Meu corpo, já cansado, aguarda o fim enquanto olho pela janela.
A vida se desfaz entre meus dedos.
As mangas caem do pé.
Suspiro.