BEBADO
ARTUR LAIZO
Ele chegou em casa bêbado como chegava todos os dias há bem tempo. Procurou por ela, como sempre fazia, sem tesão, mais para se desculpar do mal feito. Ela recusou. Ele foi pra sala. Ligou a televisão. Arrotou e sentiu aquele gosto horrível de cerveja azeda no estômago. Fez uma careta. Foi à cozinha e pegou o frasco de omeprazol da esposa - como sempre fazia -, tomou duas cápsulas e foi para o quarto.
Deitou-se ao lado da esposa que fingia dormir e apagou. Seu sono foi profundo e ela observava ele diminuir o ritmo da respiração. Diminuiu e parou de respirar. Ela olhando. Esperando o tempo passar. Ele deixou de ter batimentos cardíacos. Ela olhando. Depois de um tempo, ela se levantou, foi à cozinha. Esvaziou o conteúdo do frasco de omeprazol no vaso sanitário, recolocou o remédio para estômago - verdadeiro - no vidro. Sentou-se à mesa e pensou em quando deveria chamar a polícia para avisar que o marido morreu bêbado.