Os dedos correndo no teclado pareciam fugir da presença do tempo. Ela se embrenhava no mundo da ficção para esquecer as contas, que se acumulavam feito poeira sobre os móveis. Buscava  uma frase, apenas uma frase perfeita que arrematasse o conto escolhido para o concurso literário. As types da Olivetti Lettera 82 golpeavam o papel num ritmo cadenciado, deixando no ar uma melodia aconchegante, de porta que se abre para o sótão, onde ficam guardados  os brinquedos da infância. Tão concentrada, não viu quando a cinza do cigarro se desprendeu da guimba e caiu suave formando um montinho simpático. Parou de repente  e deu um puxão na folha, que se desprendeu da máquina. "Texto perfeito" disse para si mesma, enquanto dava goles no whisky, que respingava, produzindo pequenas nódoas no papel pólen. Olhando para essas marcas,  sentiu -se atravessada por uma fagulha divina e, em poucas horas, criou a história que mudou toda a sua vida para sempre.

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Um abraço fraterno e gratidão pela gentileza da leitura.