O PRIMEIRO OLHAR

 

Na saída da cafeteria, Gustavo convidara Alice para jantar no fim de semana. Nem ela saberia explicar a inesperada ansiedade que sentira ao encontrá-lo no restaurante italiano. Enquanto bebia a segunda taça de vinho, ele revelou outras nuances da história com a ex-mulher.

— Heloísa tem sete anos a mais do que eu. E me ensinou tanto. Talvez se ela não tivesse entrado na minha vida, eu estaria perdido até agora.

A ex-mulher percebera que Gustavo usava o sentimento por ela como um escudo contra seus medos e inseguranças. No início, ele se negara a admitir. Era mais cômodo acreditar que a amava. Mas o tempo escancarou a verdade: o afeto por Heloísa não passava de um pretexto perfeito para evitar suas questões mal resolvidas.

— Não foi fácil reconhecer que eu precisava dela pra fugir de mim. Eu sei que é estranho...

Alice pensou em sua própria história com Antonio ao interromper Gustavo:

— Não. Não é estranho.

Ele girou a taça de vinho e enquanto observava o líquido se agitar, prosseguiu:

— Eu não tinha a menor ideia do que fazer com a minha vida. Mas, ao terminar nosso casamento, Heloísa me colocou no caminho de volta pra mim mesmo.

Gustavo encarou Alice como se a conhecesse de longa data, e concluiu:

— O fim de uma relação não é bonito. É árido, solitário, mas eu ainda estou aqui.

Pela primeira vez, Alice olhou para Gustavo sem enxergar o colecionador de frases.

 

NOTA DA AUTORA:

 

ESTE É O QUARTO EPISÓDIO DE UMA PEQUENA SÉRIE DE CONTOS.

PARA MELHOR COMPREENSÃO DA HISTÓRIA LEIA TAMBÉM:

 

ACONTECEU NO ÚLTIMO INVERNO

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CAMINHOS CRUZADOS

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SEGREDOS E VERDADES

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(*) IMAGEM: BILL MURRAY E SCARLET JOHANSSEN

 

"ENCONTROS E DESENCONTROS"

 

DIREÇÃO: SOFIA COPPOLA

 

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