Pelas próprias mãos
A entrada da loja, voltada para a praça iluminada da vila, foi momentaneamente obscurecida quando uma silhueta de mulher passou por ela carregando um grande cesto.
- Vocês compram cabelo? - A visitante indagou.
- Sim; o que você tem para vender? - Respondeu a comerciante.
A visitante pôs o cesto de vime sobre o balcão. Dentro dele, a comerciante viu voltas e mais voltas de uma longa trança dourada, como se fosse uma corda enrolada.
- É seu? - Indagou para a visitante. Os cabelos dela haviam sido cortados grosseiramente, na altura dos ombros.
- Meu, sim; cansei de esperar que alguém fosse me resgatar, e resolvi usar meus cabelos em causa própria. Quanto paga por ele?
A visitante saiu satisfeita da loja pouco depois, carregando quatro guinéus de ouro. Pela primeira vez na vida, desde que usara a própria trança para descer da torre onde fora aprisionada anos atrás, sentia-se leve e livre como se houvesse acabado de retirar um peso das costas.
O que, literalmente, era o caso.
- [09-11-2021]