DETALHES INSIGNIFICANTES DE UM CRIME

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Era uma casa no campo. Mas dizer apenas casa é pouco. Era uma grande casa. E pintada em tons de azul. As portas possuíam a artificialidade de madeira. Não todas as portas, só as principais. Era uma grande e bela casa azul no campo. Mas onde estou com a cabeça? Campo é muito vago. A casa fica na área rural da cidade, não muito distante, mas não tão próxima. Não havia vizinhos. A área era grande e nela havia uma casa, grande, bela e azul. E foi diante dela que parou o carro de Roger. Um belo carro, aliás, carro não é a definição correta, era uma camionete preta muito parecida com outras de outras cores. Roger desligou o motor, retirou as chaves da ignição, olhou-se no espelho, abriu a porta e colocou a perna esquerda para fora primeiro até tocar o chão, arrastou sua perna direita, deu um passo para trás, fechou a porta da camionete. Poderia ter dito que Roger desceu da camionete, mas talvez causasse dúvidas no leitor. Então, Roger se dirigiu à entrada principal da casa, que era cercada por estacas pequenas de madeira e calçada com pedras retangulares. Subiu os três degraus que davam acesso à varanda e encostou o dedo na campainha. O dedo indicador, claro, o qual trazia a unha bem limpa e cortada. O alarme da chamada era comum como o barulho de um choque potente. Um instante depois e a porta foi aberta. Para ser exato, quarenta e três segundos. A senhora Annabel mostrou o amplo sorriso a Roger, antigo conhecido da família. Ela usava dentadura, mas ninguém diria, pois fora confeccionada em porcelana de primeira qualidade. Annabel usava vestido simples com um avental branco por cima, fazia bolinhos quando foi chamada. Bolinhos de amêndoa, ela explicou a Roger e o convidou a entrar. Possivelmente, ela nunca saberá o que aconteceu porque assim que se virou, Roger retirou o revolver que trazia na cintura e disparou em sua nuca. Nuca da senhora Annabel. Com ela ao chão, ele efetuou mais dois disparos. A sala estava impecável, exceto agora depois dessa movimentação. O senhor Javier surgiu assustado vindo de um dos corredores laterais e foi recebido com uma bala no peito seguida por duas outras na cabeça. Todas de calibre 38. Roger foi à cozinha decorada no estilo dos anos 1950, Saboreou dois bolinhos que estavam esfriando sobre a mesa numa travessa transparente, depois saiu da casa grande e azul do campo, entrou na camionete preta, uma perna de cada vez, introduziu as chaves na ignição, deu partida e foi embora pelo mesmo caminho que chegou. Ia esquecendo, antes de entrar na camionete, ele abriu a porta da mesma.

FIM

Olisomar Pires
Enviado por Olisomar Pires em 02/11/2021
Reeditado em 02/11/2021
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