A prova

Sentado, certa vez, numa pedra, como costumava fazer, falava com o povo da área rural de uma cidade organizada, no entanto, pequena para os moldes das pelápoles. Os anáziros foram chamados quando ele apareceu e começou a brincar e conversar com os moradores; absolutamente todos foram fazer-lhe companhia, ali haviam uns trinta a cinquenta - chegando os que vinham da merósma, no total, passava de cem. Um dos anáziros, famoso por ser cético às tantas boas dissências ao chamado ecoprótico, quis desafiá-lo. Confidenciou que faria o que há muito queria, mas não conseguiu por ele sumir sempre antes que aparecesse. Queria a prova que não era ele um falsário. Chegando até ele, na pedra que gostava de ficar, tudo ficou em silêncio, pois todos sabiam o pensamento que tinha acerca dele, e ele, creio, também sabia das intenções, mas continuou com um sorriso. Sei que discutiram, um tranquilo, outro um pouco apopléxico, mas não caiu o nível demais. Até chegar o momento do desafio e o derradeiro pedido para que provasse a sua elevação, foi como um impropério, contudo ele permaneceu tranquilo, apesar das censuras dos outros. Que coisa aconteceu... Ele pediu para que o furibundo tirasse a adaga que guardava e estendeu o braço, pedindo para que ele ferisse. Foi aí que o anáziro vacilou, não quis fazer, aí ele se tornou o desafiado, pois lhe foi dito que se temia era porque não acreditava nas próprias convicções - e pior: com isso, não querendo a tal prova, demonstrava apego a sua incerteza e medo à verdade; honrou, apesar dessa confusão, sua pessoa, e fez, temerosamente, vi, vimos. Cortou o braço e saiu sangue, era, de fato, humano. Já era a prova de que não era um ser sobrenatural, mas alguém como nós, verdadeiramente elevado, mas ainda havia a dúvida acerca de ser um honesto ou um ilusor, assim conhecedor das perturbações das mentes, pegou o sangue que escorria e passou no olho do não mais acusador, e o olho direito, que era cego, voltou a ver. Estava provado. E, com a alma pura e feliz que tinha, como de criança, sugeriu, brincando, que ele bebesse o sangue, para ter certeza de que era isso e não o sumo de cereja; assim saberiam se o sangue não era de mentira. Dali tirou de si o verdadeiro falsário: seu julgamento.

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 31/10/2021
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