A CASA DA MENTIRA
 

Naquela noite, Dona Mentira não passava de uma jovem senhora exausta. Esparramada no sofá da sala, depois de um terrivel dia de trabalho, ela pegou no sono. No entanto, algum tempo depois, ouviu o som de batidas na porta. Ainda sonolenta, Dona Mentira perguntou quem estava ali. Uma voz suave, mas firme, respondeu:

— A Verdade.

Apesar do estranhamento, Dona Mentira abriu a porta e fez um gesto para que a inesperada visitante entrasse em sua casa. Após acomodarem-se no sofá, a Verdade falou, sem rodeios:

— Estou pensando em vir pro teu lado.

Confusa, Dona Mentira franziu a testa:

— Isso é alguma brincadeira?

A visitante encarou a dona da casa, e prosseguiu:

— Cansei de não ser ouvida. Com você é diferente, sempre requisitada. Por isto, vim propor uma sociedade.

Dona Mentira imaginou que a Verdade enlouquecera, e quase sentiu pena da pobre criatura. Mas, não conteve a curiosidade:

— Se você trabalhasse comigo, em que área gostaria de atuar?

A Verdade esboçou um sorriso, e então respondeu:

— Nas campanhas políticas.

O som estridente da própria gargalhada acordou Dona Mentira. Agora ela não sentia mais o menor cansaço. O sonho fizera sua mente fervilhar: a ideia era perfeita. Enquanto gravava um áudio para suas redes sociais, os olhos verdes de Dona Mentira brilhavam:

— Adivinha quem estava aqui em casa querendo ser minha sócia...

Até hoje, a Verdade se vê obrigada a reafirmar que a notícia era falsa.

 

(*) IMAGEM: SIMONE SIGNORET E VÉRA CLOUSOT

"AS DIABÓLICAS"

DIREÇÃO: HENRI-GEORGES CLOUSOT


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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 16/09/2021
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