ALICE E O ESPELHO
 



A vida de Alice lembrava um filme sem muito sentido que alguém assiste somente para ver como a estranha história termina. O que aconteceria, naquela manhã de inverno, poderia ter sido uma visão, um sonho ou uma fantasia. Talvez fosse tudo isso.

Na parede espelhada do quarto, Alice, ainda sonolenta, observou a aproximação de sua imagem, que mais parecia se arrastar, no outro lado do espelho. A voz do reflexo de Alice soou entediada:

— O que você quer?

Embora tola, a resposta seria verdadeira:

— Eu não sei...

Por um momento, a imagem de Alice fixou o olhar nela, em silêncio. E então disse algo incompreensível enquanto girava o corpo para se afastar. Antes que ela desaparecesse no espelho, como costumava fazer nos últimos tempos, Alice pediu que não a abandonasse. Lentamente, a imagem virou-se em direção a Alice, e respondeu:

— Você se abandonou. Eu sou apenas o seu reflexo.

Alice encarou sua imagem como se, pela primeira vez, pudesse se enxergar. Há quanto tempo ela não se via, nem se ouvia mais? No entanto, naquele instante, a sensação de estar perdida se misturara a um sopro de esperança. O caminho de volta para si mesma seria possível se tivesse coragem.

Desde aquela manhã, a palavra tem ecoado em seu pensamento: coragem, coragem, coragem.



 
(*) IMAGEM: NATALIE PORTMAN

"CLOSER" ("PERTO DEMAIS")

DIREÇÃO: MIKE NICHOLS


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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 05/08/2021
Reeditado em 05/08/2021
Código do texto: T7314504
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