Por uma gota de orvalho

Na visita matutina, o médico o comunicou que naquele dia daria alta. Estava curado. Com semblante triste, o paciente mostrou-se insatisfeito para surpresa do profissional.

- Aqui, doutor, tenho cama boa; lençóis trocados todos os dias; comida excelente; banho com água quente. Onde moro não tenho nada disso. A água que eu vejo, e está secando, são das minhas lágrimas e, com as gotas de orvalho que se despendem da noite, lavo meu rosto.

Morando no sítio e com a filha de 16 anos com saúde debilitada, o casal toda manhã, antes do sol nascer, se dirigia ao hospital. Paravam por alguns instantes à beira da estrada onde, na pequena gruta, tinha uma imagem de Maria. Ali, postados, clamavam pela saúde da filha. Ficaram sem palavras quando perceberam que uma gota de orvalho em forma de lágrima desceu vagarosamente na face da imagem. Ao chegarem na casa hospitalar receberam a notícia que a garota recém tinha falecido.

Eu, a mulher amiga

E nosso carrinho (*)

Saímos de casa cedinho

Ganhar o pão com nosso trabalho.

Sem esquecer de olhar as flores

Que, saudosas choram de amores

Pela última gota de orvalho.

(*) reciclável

O título foi uma proposta (ou presente?) do recantista Vento Lusitano. Grato, amigo. Espero ter agradado.