SENHOR DESTINO
Ele perambulava pela rua deserta, completamente embriagado, quando ouviu a voz vinda do céu:
— Bebendo outra vez, senhor Destino? Volte já pra casa. Os encontros não podem esperar.
Sem olhar para o alto, Destino bufou. A verdade é que ele odiava as noites de quinta-feira. Como se não bastasse carregar o peso de ser responsável por tantas coisas no mundo, depois que Cupido, o último romântico, pediu licença por insalubridade, afinal nunca se viu tantos relacionamentos tóxicos por aí, coube ao próprio Destino escolher quem iria se apaixonar.
Os encontros entre os futuros casais estavam a um passo de acontecer. Em casa, Destino pegou os cartões com os nomes das pessoas que teriam seus caminhos cruzados. Ao escolher o par de uma mulher chamada Juliana Fernandes, Destino, ainda sob o efeito do álcool, confundiu-se diante de dois cartões com nomes masculinos:
— Carlos Montenegro... Carlo Montenegro.
E agora? Qual deles? Num gesto impulsivo, Destino descartou o primeiro. E colocou o outro ao lado do cartão de Juliana Fernandes. Um ano mais tarde, a tal Juliana, aos berros, discutia com Carlo:
— Eu devia estar muito louca quando me apaixonei por você.
Naquele exato instante, em algum lugar bem longe dali, Destino que curtia mais uma ressaca na banheira, retrucou:
— Gente chata. Deus me livre dos amores sem um pingo de loucura...