A MULHER QUE PASSA
Com uma xícara na mão e o olhar embaçado, acompanho o passo da velhinha na calçada. Ela segue pela rua do hospital carregando uma cesta. Anda envergada. É madrugada e o sol brilha na China. Vejo-a sempre que perco o sono e me ponho a olhar a rua, da altura do décimo andar. Penso nas pessoas que vem e vão qu' eu nunca vou conhecer. A velhinha tem o porte da minha mãe e se senta num banquinho qu'ela também carrega. Embaixo de uma árvore vende o seu café. Vende café para comprar o leite do neto, por certo. Vivemos vidas tão diferentes que nem parecemos habitar o mesmo espaço. Nossas vidas seguem linhas paralelas e nunca se cruzam.
Paraíso e inferno. Aqui, ou ao largo _ quem saberá?
De repente, a cabeça dela se vira e olha pra cima. Saio do meu devaneio. Me escondo atrás da cortina. Ela me viu? Ela me vê?
Seu olhar me encontra e ela me atravessa.
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Meus livros:
Depois do arco-íris tinha uma escola...
As aventuras de Bonitona e a vida secreta dos bichos
Mãe o silêncio atrás da porta