O grilo

O perfume de madressilva já se fazia sentir… As primeiras estrelas já crivavam o céu limpo daquele janeiro.

A fina cortina da sala permanecia imóvel, parada como um velame na calmaria. O silêncio era praticamente absoluto, dentro daquele verão excepcionalmente quente. A luz amarelada do poste da esquina estava coroada por um enxame de mariposas embriagadas. Única coisa móvel lá fora. De quando em quando um clarão entre nuvens prenunciava a chuva tão aguardada.

O velho e solitário homem apanhou um copázio e preencheu o seu vazio com uma cerveja terrivelmente gelada. Abriu novamente o livro, colocou os óculos e continuou a leitura. A intenção era de encontrar o sono e ler, talvez o encontrasse em alguma página, em algum capítulo.

Já era de madrugada quando junto a um vaso com samambaias de metro que ficava na sala rompeu o cricrilar constante de um grilo.

Parecendo um disco quebrado cortou o silêncio que reinava.

O velho e solitário homem irritou-se. Retirou os óculos, fechou o livro e tentou inutilmente espantar o pequeno inseto. Inconformado permaneceu estático por um bom tempo. Talvez, o cantar repetido do grilo tenha funcionado como uma espécie de hipnose sonora, pois o velho homem na poltrona onde estava, deixou cair os óculos e tombando a cabeça para o lado, dormiu como uma pedra e roncava como a trovoada lá fora.

Conto de JAL. mai de 2021

José Alberto Lopes
Enviado por José Alberto Lopes em 15/05/2021
Reeditado em 07/08/2023
Código do texto: T7256121
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