EU, A LUA E A GOIABEIRA
EU, A LUA E A GOIABEIRA
De novo 04:30, de novo a lua cheia, desta vez ela não faz comentário, de novo a caminhada, porém outro percurso. Logo invade as narinas o aroma de goiaba que preenche a brisa. Lá está ela, a goiabeira, carregadinha, meio escondida atrás do muro, com alguns galhos a vista.
Ah!! Se fosse verão de outrora, o pular o muro era certeza, arriscando tomar um tiro de espingarda de sal mas valia a pena, por encher a boca dessa delícia, aproveitando a oportunidade para descolar a melhor forquilha para o estilingue e o melhor pedaço de galho para fazer o taco. Não, não matava passarinhos, gostava de catar coquinhos e mamonas e estilingar as latas de óleo “SALADA”, que além de servirem de casinha no jogo de taco eram alvos preferidos nas disputas de melhor pontaria com estilingue.
No retorno para casa despeço-me da lua (lunaticamente), da goiabeira, do estilingue, do taco e começo a escrever ouvindo as Quatro Estações de Vivaldi.
É verão, mas em minhas 70 primaveras já é fim de outono, começo de inverno. Termino a escrivinhação e vou ler Proust, "Em busca do tempo perdido", sem madeleines, apenas Angela a meu lado (sorte).