LÁGRIMAS.
Desandou a chorar feito criança, os olhos inundados em água, molhando todo o rosto, pingando o chão da sala. Não havia quem a consolasse. Maria sentou-se no piso frio, agachou-se e colocou a cabeça enfiada entre as pernas, na desesperada tentativa de abraçar a si mesma ao ponto de desfazer-se naquele abraço de angústia. Aos seus pés formava uma pequena poça de lágrimas.
Maria não queria ser consolada por ninguém. Nem pelo tio, nem pelo seu irmão, pai, ou mãe, nem mesmo por Margarida, sua colega de infância e vizinha. Ela não queria ouvir conselhos, nem sermão, nem nada do tipo motivacional, dizendo que tudo ia dar certo e coisa e tal... O seu único desejo era chorar, porque melhor eram as suas lágrimas do que uma multidão de palavras inúteis que em nada mudaria sua tristeza.
A escuridão da noite ganhou a janela da sala enquanto o último filete de raio de sol desapareceu. Não havia mais ninguém fazendo companhia a Maria, deixaram ela sozinha. O pai e a mãe ficaram na cozinha com o irmão, vez é outra espiavam no canto da porta, Maria continuava no mesmo lugar, chorava menos, mas não se levantou.
" É outra crise mãe, só fica de olho aberto com ela, preocupa não que vou arranjar tratamento pra ela". Disse o irmão. " Dessa vez foi mais forte Márcio, se não tá vendo, foi mais forte, Santo Deus, quando isso vai acabar…"
Passavam das dez da noite quando fez completo silêncio. Maria não chorava mais, dormiu encostada na parede, toda desajeitada, as pernas esticadas e braços caídos. Com jeito, o irmão a pegou nos braços, magra como estava, não teve dificuldades. Colocou-a na cama da mãe. Dormia pesado a coitada, como nunca antes, ela foi finalmente vencida pelo efeito do remédio diluído no copo de água que o irmão havia preparado minutos atrás. Maria sorria enquanto dormia, de vez em quando pronunciava algumas palavras indecifráveis, nem parecia aquela moça afogando-se em lágrimas de minutos atrás. O sorriso de sono brilhava no rosto pequeno… " Deve de estar sonhando com coisas boas", disse a mãe. " Poderia ficar assim para sempre, é nunca mais na vida acordar", completou. A mãe ficou ao lado da filha, observando os seus sorrisos, cada vez que Maria sorria finas gotas de lágrimas desciam dos olhos de dona Marisa, agora era a mãe que chorava copiosamente a cada sorriso da filha, assim ficou por longas horas, até ser vencida pelo sono deitando-se ao lado dela…