O PERIGO DE SE NOMEAR
Jordão, bom gaúcho que era, comprou um boizinho às meias com seu genro, a parte dele era para sua festa de 60 anos, a do genro, ganhar uns trocos vendendo o traseiro, e o dianteiro seria para alimentar a família.
Todos os dias pegava seu boizinho e levava ao pasto, sentia-se sozinho e começou a conversar com o animal. Quando alguém perguntava pelo boi dizia que era para o churrasquinho de seu aniversário. Ironia ou não, acabou chamando-o Churrasquinho. Infelicidade dar nome aos bois, Jordão apegou-se ao animal, adiou seu aniversário, inventou mil desculpas para adiar a despedida. Acordava e a primeira coisa que fazia era abrir a janela para ver seu amigo.
Numa manha de sol, feriado nacional, acordou tarde, abriu a janela e não viu Churrasquinho, ouviu vozes no quintal, saiu em disparada, coração saindo pela boca. Não acreditou no que viu – Churrasquinho!
O braseiro pronto, a festa montada, a casa logo estaria cheia, todos para o churrasquinho.
Jordão chorou no parabéns, sentia-se só. Aquela noite não comeu. Não tinha fome.
Conto Breve do livro RETALHOS DE BOLSO, no prelo.