O livro esquecido
Entro bastante cansado em um sótão qualquer, de farda surrada e terra até os cotovelos. Limpo alguma coisa dos coturnos no tapete que ali estava quase imperceptível. Há um livro no chão, coberto por um fino lençol de poeira colocado tempo. Pego-o e sopro dele a poeira estacionada, sinto com dedos emporcalhados o macio do coro de sua capa, folheio um pouco e ele parece ainda virgem de leituras. Jogo ele em canto qualquer com estafada preguiça.
Meu grande companheiro entra logo após, um vira-lata dos mais comuns, mas com a coragem de 100 homens. Algumas cinzas se prendem em seu pelo ralo e caramelo. Ele se esfrega em mim para tirá-las ou por carência, nunca irei saber.
Olho através do buraco chamuscado na parede da esquerda, parece marca de um tiro de canhão recente. Alguns soldados e tanques passeiam na rua. Escuto alguns gritos me chamando. Com movimentos quase programados, peguei o livro novamente e sai.