DOIS LUGARES NA MESA

Todos os dias, há um ano, ela sonhava com ele. Eram noites tórridas de grande erotismo, ou de amoroso companheirismo. De manhã ao despertar, dava um beijo em seu retrato e ia pra cozinha preparar o café para eles... dois lugares na mesa... o dia às vezes custava a passar, mas ela logo se envolvia em alguma atividade... donas de casa têm sempre o que fazer. Um dia, porém, ele lhe apareceu de modo diferente em seu sonho, e lhe disse: “Meu amor, sei que você vai sofrer, mas será melhor assim... você tem que aceitar e encarar a realidade... eu morri... veja como foi; e dizendo isso, mostrou-lhe as imagens de seus últimos momentos, o instante exato em que teve o infarto fulminante. Minutos depois, ela acordou desesperada, banhada em lágrimas e em lágrimas banhada ficou o dia todo e a noite toda também... não comeu, nem tomou banho, mal dormiu... deixou-se ficar na cama.

No dia seguinte, agarrou-se desesperadamente ao travesseiro dele, beijou-o aos prantos, mas, depois de um tempo, conseguiu se despedir. Levantou-se, arrumou todas as roupas e as coisas dele, chamou o Exército da Salvação e entregou-as a eles. Daquele dia em diante, seus sonhos com ele cessaram e ela mergulhou num longo período de silêncio e luto... de manhã arrastava-se, mas já não preparava o café dele, só o dela... mesa só pra um. Seis meses se passaram e o antidepressivo começou a fazer efeito. Um dia, deu-se conta de que ele tinha morrido, não ela, embora parecesse meio morta. Decidiu, então, mudar as coisas. Como gostava de dançar e se exercitar, matriculou-se numa aula de zumba e foi dançar a vida que ainda tinha pela frente...

Ouvindo Stardust --- Nat King Cole --- trad.

https://youtu.be/X7HzJgbgvOA