A lenda da mulher de vermelho
No vermelho vivo me esparramo, deleitada no balanço das ondas. Sinto a maresia que declamo e guardo no peito o meu descanso, sentinela atenta de muitas rondas. Sou aquela mulher de vermelho que mora acordada no teu sonho e te traz uma paz consternada, envolvida em roupas de cetim. Diz a lenda que numa estrada, fui vista por quem me sonhava. A quem sorria, logo parava e sentia todo o meu perfume, assim... Pétalas sinuosas de rosa vermelha forçavam o meu passeio pela noite, sem destino e sem morada. Os homens seguiam-me com ardor e fé, na longa estrada consignada. Quando os beijava, abraçava-os e convidava-os a prosseguir comigo ao luar, pelo caminho do velho e escuro cemitério. Éramos apaixonados, cúmplices e libidinosos naquele amor, perpetuado nas noites sem fim. Quando chegávamos à porta da minha velha e bela casinha, perguntava-lhes sempre com doçura: - Queres que eu seja tua para sempre? - Vem amor, eu moro aqui sozinha...