Lepra

No começo da noite, Cabinda era uma cidade sinistra e mal iluminada. Como de costume, atravessei com o meu pai por aquela velha rua de calçada larga e suja. Um emaranhado de panos coloridos e desbotados jazia junto a uma reentrância sem luz. Passei muito perto daquilo, quando vi um dos panos mexer lentamente, como se abrigasse um animal escondido e ferido. Quando estávamos muito próximo, uma mão com manchas rosadas e de apenas três dedos, emergiu daquela roupagem. O meu pai fingiu que não viu, mas eu, perturbado e atento, senti um desconforto na barriga quando passei muito perto daquele corpo. Olhei duas vezes para trás, mas não avistei mais aquele vulto. Insisti uma terceira vez, e dessa vez percebi que aquele vulto tinha-se despido dos panos e era agora um ser mutilado e rastejante que se aproximava rapidamente de nós. Senti que queria alcançar-nos para se vingar do nosso descaso e nos contagiar com a sua doença. As minhas pernas travaram e o meu corpo gelou. Fiquei parado no espaço e no tempo. Ia ser alcançado, não fosse sentir, na hora certa, um forte puxão no meu braço...

Mongiardim Saraiva
Enviado por Mongiardim Saraiva em 25/07/2020
Reeditado em 08/09/2021
Código do texto: T7016376
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