BEIJO NA NUCA

Fazia frio, uma chuvinha fina caía lá fora e o tempo estava propício para se ficar quietinho num canto, lendo um livro e pensando na vida, que era exatamente o que Maria Cristina estava fazendo. Uma xícara de chocolate quente, uma manta e as indefectíveis meias de lã nos pés aqueciam seu corpo, enquanto sua mente e coração se aqueciam com recordações. Naquele momento tinha parado de ler o livro e se punha a lembrar dos muitos e-mails trocados com Arthur. A princípio eram bem formais, sobre suas rotinas, seus afazeres cotidianos... depois foram se tornando mais íntimos, com mais detalhes pessoais, até alcançarem um nível realmente permissivo, em que trocavam carícias virtuais e deu-se conta do poder de provocação que as palavras têm. Ficou pensando em que ponto tinham começado a se distanciar e o porquê disto ter acontecido, mas deu de ombros, porque tinha sido algo nebuloso, que até agora não estava claro... depois, já fazia tanto tempo que não importava mais achar explicações. O importante é terem vivido aquela relação tão gostosa que jamais se apagaria de sua memória. Ficou lembrando do que fora dito nos e-mails e do que mais a marcara e lembrou-se de uma vez que ele se despedira dela com um beijo na nuca e arrepiou-se toda, ao pensar na sensação que experimentara. Começou, então, a imaginar a cena, ele afastando seus longos cabelos e deixando-lhe a nuca desnuda e suplicante, pronta para receber seus lábios mornos e úmidos num beijo delicioso que não ficaria só nisso. Sorveu mais um gole do chocolate quente, reclinou-se no sofá e fechou os olhos, deixando que sua imaginação a levasse muito além daquele beijo na nuca e foi longe... muito longe...

Ouvindo Rita Coolidge - We're All Alone (Tradução)

https://youtu.be/GjHgkJ2mE50