O mergulho
Há já algum tempo, mantinha-me quase adormecido à superfície sem que avistasse algum ponto interessante para explorar. Por isso, decidi mergulhar. Naquele instante, prendi a respiração e dei uma cambalhota para baixo, em direção àquela enorme massa azul que refletira todo o meu céu. Escutei um som forte, melodioso e uma luz brilhante passou a acompanhar-me como uma estrela. Algumas sardinhas vieram cumprimentar-me efusivamente. Estava num outro plano e curiosamente não senti falta do ar que respirava. Era com se estivesse num sonho em que só a intensidade e o interesse bastavam. Desci mais um pouco, agora já quase entregue àquele poderoso destino. Algumas medusas e peixes coloridos vieram acompanhar-me até à entrada de uma gruta. Aproximei-me do majestoso rochedo, incrustado de conchas e pequenas criaturas que pareciam observar-me com atenção. Na entrada daquela pedra avistei algo que me pareceu a ponta de uma enorme barbatana. O que seria aquilo? Nadei mais um pouco. Dentro da rocha descortinei a imagem de um vulto majestoso que me acenava em gestos suaves e contínuos. Senti um forte apelo. Não tive nenhuma relutância em entrar naquela dimensão, apesar de desconhecer o propósito daquela experiência. Entrei seguro do meu destino e deixei que aquele mistério me seduzisse e conduzisse às suas origens mais profundas e remotas.