Goa
Após uma viagem de quarenta e oito horas num quadrimotor a hélices, percebemos um amontoado de gente multicolor, um calor úmido e abrasador. Estávamos na Índia. Muitas das calçadas estavam escarradas e com sangue. Senti uma forte queimadura nas pernas quando me sentaram no cavalo de pedra daquele jardim. Presenciei funerais com hinos de louvor, música e alegria na celebração da passagem das almas para o plano espiritual e superior. Os corpos eram regados e incendiados em praça pública e uma multidão aguardava apreensiva o estalar das cabeças dos defuntos, em sinal de aceitação divina. Um dia, um corvo entrou pela nossa janela e roubou-nos alguns bifes do nosso almoço. A carne, nos açougues, era latejante, escura e com pelo. Foram três anos duros e inusitados. Ricos e reflexivos. Um dia, regressei às minhas origens...