O PORTEIRO DO HADES

Na Pindamonhangaba dos anos 30 houve um alfaiate, Alfredo, que era um artífice da linha e agulha, muito procurado pelos homens, pois cosia os melhores ternos e a preços justos. Além disso, muito católico , desde menino cultivava um hábito peculiar, ir a todos os velórios rezar pelo morto e dizer palavras exaltando-o, o que consolava a todos. Ficou tão arraigado esse hábito que sua chegada causava emoção e choro das famílias.Mães, irmãs, viúvas sentiam alívio e corriam servir-lhe café. Acompanhava o enterro e o fazia para todos, desde o preso ou mendigo -ocasiões nas quais só ele ia- até as autoridades e pessoas ricas. Isso era muito comentado na cidade, Alfredo era infalível. Um poeta meio pagão da cidade o alcunhou de "O Porteiro do Hades".

Quando chegou a vez de Alfredo, vítima de um infarto e como Pinda é o coração do mundo, foi inteira ao seu enterro, dizem que o maior da história da cidade até então. Desde o prefeito, passando por religiosos, funcionários públicos, até o mais humilde lavrador acompanharam o féretro rezando em voz alta pela alma de um homem que se importava com a dor alheia.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 17/06/2020
Reeditado em 17/06/2020
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