COMO FORAM PARAR ALI ?
Do corredor do Asilo Santo Antonio via-se dona Veridiana tomar sol junto ao jardim. Já entrara em decrepitude, dissera-me irmã Anunciação, e não dizia coisa com coisa, a família a abandonara. As idosas riam-se das narrações de Veridiana, que afirmava sair de si mesma ao tomar sol, dizia: - "Saio de mim mesma invisível, vou a um certo lugar, mas ao transpôr o portão tomo forma, volto a ser jovem e passeio pela cidade..." Todos, inclusive as irmãs religiosas, continham o riso. Numa tarde invernal a idosa deu o estertor, faleceu de causas naturais. No pequeno baú de Veridiana, há tempos fechado, as irmãs encontraram objetos, acessórios e roupas novos porque havia notas fiscais de cada deles com datas recentes... Irmã Desidéria desconfiou que aquilo tinha alguma relação com o vazio da caixa de donativos na capela adjacente: "Mas ninguém tivera contato com ela", disse irmã Anunciata, que cuidava da idosa tetraplégica vinte e quatro horas por dia de domingo a domingo:" Aquelas coisas... como foram parar ali? "