Encontro dialógico dos chatos

Amigos se encontram. Um a caminho da biblioteca, outro de volta da aula de ioga.

Oh amigo, aonde vai assim empertigado?

Vou à biblioteca. Respondeu o primeiro e escondeu a capa do livro debaixo do braço.

Hum, em busca do saber?

Não, hoje é segunda-feira dia de devolução mesmo.

Oh que beleza.

O que é tão belo?

Você, assim dedicado.

Hã, você leu Ulisses?

Três vezes. Duas e meia na verdade, a terceira foi só estudo de técnicas narrativas.

E? Ao perguntar, escondeu ainda mais a capa do livro debaixo do braço.

“E” o quê?

E o livro?

Ah, sim, prefiro Finnegans Wake.

Oh, você leu Wake, então?

Não, não li. Mas creio que um escritor como Joyce não cometeria o mesmo erro duas vezes.

Apertaram as mãos e se despediram. Seguiram direções opostas, cada um pelo caminho a praguejar a sorte de ter encontrado o outro.

Ao se certificar da distância do amigo inconveniente, abriu o livro e olhou a ficha de assinaturas de empréstimos: não constava o seu nome. Que filho da puta, falou e fechou o livro.

Grouchesco
Enviado por Grouchesco em 01/06/2020
Reeditado em 02/06/2020
Código do texto: T6964951
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