Encontro dialógico dos chatos
Amigos se encontram. Um a caminho da biblioteca, outro de volta da aula de ioga.
Oh amigo, aonde vai assim empertigado?
Vou à biblioteca. Respondeu o primeiro e escondeu a capa do livro debaixo do braço.
Hum, em busca do saber?
Não, hoje é segunda-feira dia de devolução mesmo.
Oh que beleza.
O que é tão belo?
Você, assim dedicado.
Hã, você leu Ulisses?
Três vezes. Duas e meia na verdade, a terceira foi só estudo de técnicas narrativas.
E? Ao perguntar, escondeu ainda mais a capa do livro debaixo do braço.
“E” o quê?
E o livro?
Ah, sim, prefiro Finnegans Wake.
Oh, você leu Wake, então?
Não, não li. Mas creio que um escritor como Joyce não cometeria o mesmo erro duas vezes.
Apertaram as mãos e se despediram. Seguiram direções opostas, cada um pelo caminho a praguejar a sorte de ter encontrado o outro.
Ao se certificar da distância do amigo inconveniente, abriu o livro e olhou a ficha de assinaturas de empréstimos: não constava o seu nome. Que filho da puta, falou e fechou o livro.