O tipo de escritor que queria ser
Tenho uma imagem que não me sai da cabeça: a mulher entra numa livraria, depois de rodar quase todas as estantes, decide ir embora. À saída vê um livro no pé da estante de queima de estoque, capa toda azul-céu, só o título em fonte grande e o nome do autor em fonte pequena na barra. Ela pega e folheia. Intrigada, lê algumas páginas. Lê mais algumas. Encosta o ombro na estante, o suor lhe enverniza a testa, passa a mão no cabelo. Fecha o livro com rispidez. Se agacha para pôr de volta no lugar, desiste e levanta com o livro apertado entre as mãos. Abre de novo, lê umas 4 páginas. Fecha. Abre e lê mais alguns trechos. Não sou bom em leitura labial, mas, se não me engano, leio-a dizer: filho da mãe, ah que filho da mãe, como pôde? Ela refaz a sequência, relê, fecha o livro e diz em voz alta algo indignada e sorridente: que filho da mãe, não acredito que escreveu isso. E sai em disparada com meu livro apertado ao peito.