Ela...
Ao descobrir hoje uma foto, onde a minha bisavó tinha vinte anos,pensei nela, e na sua vida e no quanto extraordinária ela foi:
Nasceu em 1895, numa altura em que os automóveis eram umas engenhocas novas, e que o primeiro voo de um avião estava a anos de distância.
Tinha 15 anos quando Portugal se transformou numa República, e ainda me recordo de histórias que ela contava sobre esse tempo de tumultos.
Aos 19 a I Guerra começou.
Tinha 23 anos quando a pneumónica apareceu ( a última grande Pandemia a atingir o planeta, antes do COVID-19 ), já grávida do meu avô foi infectada e viveu para contar e para ter mais 11 filhos.
Depois, depois na minha memória tudo anda muito depressa, e para resumir, quando ela morreu,o Estado Novo tinha começado e acabado, a velha Alta de Coimbra, que penso ela deve ter conhecido,foi parcialmente destruída para dar lugar à nova Universidade, e um dos filhos dela até participou na remoção dos destroços.
A última grande Guerra a magoar o mundo tinha começado e acabado, e com o seu fim as fomes milenares da Europa tinham acabado, e a Europa viveu o seu maior período de paz e prosperidade, que acabou por nos tocar, depois da chegada de Abril, tinha ela 79 anos.
E quando morreu,o homem há muito que voava e, pasme-se, já fora à lua e começara até a espalhar naves, sondas pelo Universo.
Morreu de velhice, depois de ter vencido um cancro,era uma mulher rija, mas de uma ternura infinita,e ainda me recordo quando me olhava com os a seus olhos a brilhar, sorrindo, acariciando o meu rosto e beijando-me com todo o amor do mundo.
É isso que mais recordo nela, não as histórias do mundo, mas do seu amor, da sua ternura que eu, o seu segundo bisneto mais velho tive o privilégio de receber.
Tenho saudades tuas, e se calhar foi por isso, para te agradecer, que escrevi esta história e que te dei a conhecer ao mundo.