QUANDO ME CONTARAM QUE O MUNDO ACABOU
 
 



Atordoada, ela olhou para o garçom e, em seguida, para os dois clientes sentados no balcão da lanchonete.  A história que ouvira era tão absurda quanto verdadeira: além deles, ninguém mais existia. Naquela noite, o mundo acabara e apenas os quatro sobreviveram ao fim.

Alice precisava encontrar um sentido:

— Por que só nós quatro sobrevivemos?

Um dos clientes respirou fundo, e disse:

— Olha bem pra nossa cara. Você acha que alguém aqui tem a resposta?

A aflição da mulher era evidente. Andando de um lado para o outro, ela repetia sem parar:

— O que a gente vai fazer?

Irritado, o outro cliente retrucou:

— Você ainda não entendeu? Não há mais nada lá fora.

Alice parecia exausta ao sussurrar mais uma vez:

— O que a gente vai fazer?

Naquele exato instante, o garçom que bebia sem qualquer moderação porque não haveria amanhã, ergueu o copo de uísque e disparou:

— Como vocês são chatos. Um brinde ao silêncio.





 
(*) IMAGEM: "NIGHTHAWKS"

EDWARD HOPPER 



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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 01/04/2020
Reeditado em 01/04/2020
Código do texto: T6903504
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