A peleja da  Alma  contra  a Vida

     Tantos anos, a Alma viveu em aventura, arriscando-se aos perigos mais temíveis. Guardada em Corpo forte e varonil, safava-se sem um arranhão sequer.
     Assim, gozou, por largo tempo, a virtude de ser imortal, sem risco de sucumbir aos, avidamente frequentados, males. 
   Contudo, inexorável, veio ao Corpo a senilidade. Alquebrado, após tamanha extravagância, tentava, a duras penas, acompanhar os arroubos juvenis da tão imortal companheira.
       Chegou, por fim, o dia, em que, na mais espetacular das aventuras, a Alma, ao se safar ilesa de mais um contra-ataque da tão desafiada Vida, sentou-se, ofegante, às margens do caminho.  E, quando olhou, aturdida, para trás viu, inerte, o companheiro, que, na louca e longa jornada, não merecera o seu devido zelo.
     O finado Corpo foi entregue à sombra de uma catacumba e a Alma, então, desconsoladamente livre, perdida em assombrosa solidão.
     Restou-lhe fazer-se Alma Penada, para todo o sempre, condenada a viver na mais  medonha e  muda assombração.
Fernando Antônio Belino
Enviado por Fernando Antônio Belino em 27/01/2020
Reeditado em 29/01/2020
Código do texto: T6851877
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