UMA DOR NO SILÊNCIO.

- É sempre assim, não se assuste...

- Quando isso começou?

- Já faz um tempo, um ano para cá eu acho.

- Entendo.

- No começo eu estranhei, mas com o tempo fui me acostumando, nos acostumamos a tudo na vida não é mesmo.

- É o que dizem.

- Veja só... Olhe como a coisa acontece... É até engraçado de certa forma, assustador para alguns, mas, para mim, tornou-se engraçado.

- Rapaz... Eu não sei se conseguiria lidar com isso, complicado.

- É nada.

- Como não... Você se acostumou tanto com essa situação pra lá de... Excêntrica, que, este estranho é normal na sua concepção.

- Todos nós temos os nossos momentos... Excêntricos, como você disse. Então, em um mundo tão absurdo, o anormal tem certa beleza escondida.

- Tudo bem, eu concordo que temos nossos momentos, mas, o camarada, durante um ano, todos os dias às três horas da tarde ficar pelado em cima de uma pedra na frente de um lago uivando, achando que é um lobisomem, é caso para um manicômio.

- Prefiro ver meu irmão uivando às três da tarde para o resto da vida do que colocá-lo em um manicômio. Primeiro foi o meu avô, depois meu pai, ambos internados em Barbacena, ambos mortos meses depois. É sempre assim, entrou lá dentro tá morto, e você sabe muito bem que nesses lugares mataram tanto quanto os nazista na segunda guerra.

- Conheço as histórias, perto de casa havia um antigo manicômio, desativado a anos, recentemente um hipermercado comprou o local. Você acredita que durante as obras, quando demoliram tudo e começou a se escavar, acharam um monte de ossada humana, absurdo. A morte de seu avô e pai, ocorreram justamente no período em que, segundo dizem, houve o maior número de mortes, entre as décadas de 1960 e 1970, o que acontecia no hospital chegou a ser chamado de "Holocausto Brasileiro". Estima-se que pelo menos 60 mil pessoas tenham morrido no Hospital Colônia de Barbacena. História essa esquecida de muitos, mas, eu vou ver o que posso fazer, não é nada fácil conseguir os medicamentos que você está pedindo, afinal, sou um veterinário, mas vou dar um jeito. Enquanto isso, fique de olho aberto meu amigo, qualquer outra alteração, me avise.

- Obrigado Carlos, você é um grande amigo e a única pessoa em quem posso confiar.

- Amigo é para essas coisas Silvio, nunca vou esquecer o que você fez por mim. Até semana que vem.

- Até mais ver…

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 25/01/2020
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