Safira

Durante muitos anos, vivi numa vilazinha do interior. A casa, a bem dizer, era um ranchinho com telhado de capim e parede de taipa, não tinha água encanada nem luz elétrica. Claridade, à noite, só de lamparina de querosene e água era na bica no fundo do quintal.

Vida muito regrada de conforto, mas de muita paz e alegria em conviver com a natureza. Acordava com canto de passarinho e dormia com o silêncio de lua cheia boiando no céu apinhado de estrelas. Na minha ideia, aquele era o melhor lugar do mundo e lá eu queria viver até quando Deus me permitisse sem mudar uma palha.

Porém a vida tem seus caprichos e surpresas. Uma tardezinha de outono, estava eu sentado à porta da minha tapera, apreciando a gostosura da brisa, quando me veio do nada a vontade de deixar aquilo tudo e ir conhecer a capital.

Senti um frio na espinha só de pensar no risco de tamanha mudança. Mas durante a noite, concertei melhor aquele plano e, na madrugadinha do dia seguinte, saí sem volta, em busca do desconhecido.

Desnecessário contar aqui as diferenças que cá encontrei, movimento infernal, barulho alucinante, formigueiro de gente. Tanta gente! Num ir e vir sem aparente sentido.

E foi no meio desse povão todo que descobri Safira: aqueles olhos de noite estrelada e o sorriso de água de cacimba, doce que nem mel de abelha jataí. Foi então que eu vi que a felicidade e a paz, que tanto prezei lá no meu cantinho sossegado, estavam presentes também na agitação da cidade grande. Bastava ter tino ou sorte para encontrá-las.

Fernando Antônio Belino
Enviado por Fernando Antônio Belino em 09/01/2020
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