Castigo Merecido
O maldito caminha pela estrada acidentada. A multidão ao seu redor xinga, berra e escarnece. Soldados romanos puxam-lhe por cordas. Os pedregulhos machucam seus pés, o capacete em forma de coroa com longos espinhos sangra sua cabeça, a pesada viga de madeira esfola seus ombros. O corpo é pouco mais que uma massa de carne e sangue, após uma madrugada de espancamento. A dor é tanta que sua visão está embaçada. Em silêncio, como um cordeiro ao matadouro, é arrastado.
Em seu coração ele ora: “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará. Faz-me repousar em pastos verdejantes, conduz-me às águas de descanso, refrigera a minha alma, guia-me nas veredas da justiça por amor do seu nome. Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não recearei mal algum, porque tu és comigo: o teu cajado e o teu bordão me confortam. Diante de mim preparas uma mesa na presença dos meus inimigos; ungiste com óleo a minha cabeça; o meu cálice transborda. Unicamente a bondade e a misericórdia me perseguirão todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor por longos dias.”
Cai, sem forças. Arrastam-no, chutam-lhe as costelas. Não pode escapar da condenação, pois ao Senhor agradou moê-lo. Dor, morte e trevas são seu quinhão. Seu crime? “Ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados. Todos nós, tal qual ovelhas, nos desviamos, cada um de nós se voltou para o seu próprio caminho; e o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós.”