Alarme falso?
Clodomiro, por índole sempre muito centrado, comemorou seu aniversário sem imaginar que seria o último e, no dia seguinte, abraçou Dolores por sobre os seus ombros enquanto esperavam a luz verde do semáforo para atravessarem a rua. Voltavam do consultório médico aonde foram tratar da tosse e das dores no peito que o acometiam.
O raio X do tórax passou a ser a fonte de preocupação do casal. Com o coração oprimido Dolores fazia de tudo para não refletir sobre o diagnóstico do doutor. Veementemente ela se negava de prever o futuro sem o marido e sem o conforto da sua companhia, não queria pensar em nada, pelo menos até chegar em casa. Ao seu lado ele cogitava: "Foi por isso que eu evitei esta consulta, médico nunca tem algo bom para nos apresentar. Satisfeito!?, dizia para si mesmo em pensamentos. Se é pra parar de fumar, tudo bem, a partir de agora eu paro. Este será o derradeiro cigarro que vou tragar enquanto estiver vivo".
- Dolores, vamos! O sinal está verde e os carros já estão parados, preciso voltar ao trabalho. Não fique assim pensativa, meu bem, porque eu não vou te faltar agora. Prometo.
- Como prometo, se você está com um cigarro aceso entre os dedos? Nem parar de fumar você consegue!
- Querida, é o último! Aquele clínico geral pode estar enganado, ele é muito jovem, e aquela mancha no pulmão pode não ser nada, apenas um alarme falso. Você vai ver que, na tomografia, nada disso vai se confirmar, pensa positivo. Olha! Último, tá vendo?
E mostrou a bituca imprensada entre o dedo anular com o dedo médio no exato momento em que deu-lhe o peteleco.