A menina e o monstro
Ele não tinha forma, mas quase sempre aparecia, dentro dos cômodos arrumados ou nos vazios. Nos arrumados, ele tudo destruía. Nos vazios, ele tudo preenchia. No início de tudo, a menina lutava. Pegava a vassoura ou qualquer objeto que estivesse mais próximo e o expulsava dali. Às vezes ele saía. Mas, sempre voltava. Ele não avisava, mas ela o pressentia. Antes mesmo que ele chegasse, ela já se assentava na cama e o esperava. Às vezes ela até abria a porta. Em outros momentos, alguém abria. Mas, ele não invadia. O monstro e a menina tornaram-se próximos, com o passar dos anos. Por fim, ela nem se esforçava pra que ele fosse embora. Preparava um chá. Tentava se acalmar. Mas, o monstro era agitado demais. O monstro não gostava da calmaria. Vez ou outra, ele mesmo ia embora, mas deixava algo seu pra marcar o seu lugar e informar que voltaria. Assim ela seguia, tentando se acalmar com chás, músicas e poesias. Disseram que talvez isso o afastaria. “Respire fundo, feche os olhos e pense em algo que te traz paz.” Assim ela fazia e o monstro até sumia. Mas, vez ou outra ele voltava e bagunçava, de novo, as prateleiras que ela se esforçou tanto pra montar.