As estrelas
Em uma noite notavelmente morna - com um céu tão coberto de estrelas que a lua ficava de segundo plano - o frio era na barriga. Maíra terminou os últimos retoques na maquiagem e depois colocou um par de brinco nas orelhas. Sentou de frente para o espelho e por alguns apalpou os cabelos e retocou o perfume. - Tudo estava do jeito que ela queria, estava no comando. Levantou-se, arrumou o vestido para que cobrisse um pouquinho mais suas coxas, admirou seu reflexo e sentiu-se completamente satisfeita com a escolha de roupa. Respirou fundo e saiu.
Com uma bolsa combinando com a roupa, chave do carro balançando na sua mão e o salto fazendo música, atravessava a garagem, indiscretamente chamava a atenção até do segurança do prédio. - Uma pena que a atração dele jamais correspondida. Abriu a porta do carro, jogou a bolsa e o salto no banco do passageiro e descalça pisou na embreagem, passou a ré e quando saiu da vaga acelerou até a saída do prédio.
Nem precisou dirigir muito para chegar até um de seus locais favoritos da cidade de São Paulo, a Avenida Paulista. Deixou o carro em um estacionamento e depois seguiu caminhando até uma travessa arborizada onde se lançou no primeiro bar que encontrou aberto. Sentou em uma cadeira de madeira e rapidamente foi recepcionada com um cardápio. Trocou umas mensagens pelo celular antes de fazer o pedido e aguardou pacientemente.
Alguns minutos antes das suas bebidas chegarem, Marcos veio ao seu encontro. A recepção não poderia ser diferente. Ela se levantou com um largo sorriso e os dois se beijaram. Depois cada um sentou em uma cadeira e descansaram o braço na mesa.
- Já pedi uma coisinha para beber. - ela disse.
- E o que pediu?
- Nada demais, caipirinha... Só pra abrir a noite. - sorriu.
Ele estava suavemente perfumado e ela tão detalhista que se envolvia por aquele cheiro, - ah, ótimas lembranças! Há alguns meses estiveram em um empasse, ele tinha problemas com a autoestima e ela era autosuficiente demais, isso o incomodava. Tinha muito claro na mente a sua função na vida dele desde que se conheceram, estar juntos. Assim como ele muito bem sabia respeitar os seus espaços, ela compreendia as limitações. De que forma faziam isso? - O namoro não era a cura para as suas dores, o namoro era ter alguém que provoca sentimento e que consequentemente ambos se dispõem a encontrar meios de estarem juntos e apoiar um ao outro.
- Você está cada dia melhor.- ela disse sorrindo.
- Porque eu estou com você.
- Que nada, isso não é verdade. Você está com um bom aspecto porque se sente cada vez mais confiante.
- E amado.
- Pode ser também. - riram enquanto recebiam a bebida do garçom. - E aí, o que acha?
- Forte, tem muita cachaça nisso aqui.
- Para mim está ótima.
Depois de alguns minutos e de mais uns drinks, os pensamentos seguiam direções que já eram previsíveis. Começavam assim toda vez, o cheiro do perfume, a conversa ficava quente, os olhares se penetravam mais intimamente e em instantes não eram só os olhares... Ela carinhosamente segurou sua mão, ele sorriu de lado.
- Estava pensando em fazermos alguma coisa diferente hoje. - ela disse.
- Tipo o quê?
- Dominar você.
Ele ficou hesitante por um tempo.
- Eu vou acertar a conta, você me espera. - ele disse.
- Não, deixa que eu faço isso. Vai lá para o carro, hoje vamos ver as estrelas a noite toda.