A Fenda

Começamos a construir o nosso Universo da mesma forma que todos faziam: com um vasto espaço vazio, cheio de nada. E depois, cogitamos em abrir uma fenda para sugar o que quer que estivesse nalgum outro Universo próximo e maior, para dentro do nosso. Isso não era visto com muitos bons olhos, mas criar matéria a partir de flutuações quânticas sempre dá muito trabalho; melhor roubar... quero dizer, melhor pegar um pouco de matéria pronta de algum vizinho, com mais do que suficiente para si e os seus.

- O Universo de Braminda é um bom candidato - sugeriu Versha. - Estável, antigo, muita matéria sobressalente.

Abrir uma fenda entre dois universos adjacentes não é tarefa das mais difíceis, até porque ela pode ser deslocada para qualquer outro ponto do contínuo do espaço-tempo, se quem estiver perdendo matéria desconfiar da tramoia. E nem era nossa intenção retirar muito, só o suficiente para que pudéssemos armar o nosso próprio Big Bang. Versha abriu a fenda e ficamos a postos, para receber o que saísse de lá.

- Vem vindo algo pesado - avaliou Versha, espiando cautelosamente para o lado de Braminda. - Está distorcendo a luz das galáxias atrás dele...

Só tarde demais fomos nos dar conta de que Braminda cercara o seu perímetro de buracos negros - justamente para pegar larápios como nós desprevenidos.

- [13-05-2019]