ALCATIFA

Gosto do tapete que me presenteaste para adornar a sala do apartamento. A luz que invade as janelas de vidro no meio da manhã, bordam de filigranas esse atavio de tão bom gosto. A claridade empresta voz ao que escrevo. Não precisamos mais da cama e do sofá para nossos jogos amorosos. Lês minha sorte atestando o nosso destino para confins inimagináveis. Talvez seja porque desdenhei de ti afirmando que vou escrever o romance do século. E assim passo meus dias ao lado de inúmeros léxicos formulando histórias com os pés amarrados a fios de seda segregados pelos insetos. Entendes minha solidão e te ausentas. Não existe abismo suficiente para o sepulcro das palavras. Na mesinha de centro a clepsidra, esse estranho relógio d'água cleptomaníaco, que rouba do tempo os minutos de que preciso para compor o martírio de minhas criaturas.