ISSO NÃO É ONDA
Quando entrei naquele trem, deparei com os vários rostos cansados. Volta do trabalho. Cada face é capa de um livro de história. Os homens dos andares superiores não sabem o aperto que é aqui no porão da sociedade. Reconheci a minha mãe no seu canto de sempre. Ela ainda carrega aquela lágrima petrificada encrustada em mais uma ruga no seu rosto. Ela me dizia sempre para eu largar aquela vida de surfista ferroviário. Não levei a sério. Um dia foi a vida que me largou. Ah, como eu gostaria de pedir — Mamãe, me perdoa. — Aproximo espremido entre suores e tristezas e lhe dou um beijo na testa. Ela sente uma brisa leve como agrado de mais um anoitecer.