série: diálogos | Placas

— Eu já te disse que sinto um vazio enorme vendo as marcas de placas retiradas?

— Não. Por incrível que pareça, não.

— Engraçado, eu te conto tudo!

— Pois é. Tá tudo bem?

— Não sei ainda.

— O que houve?

— Aquelas marcas, às vezes quadradas, às vezes retangulares; umas com sujeira, outras desbotadas. Algumas formam nomes, nomes completos, tão completos que nomeiam todo o entorno, tudo! Mas... São só as fachadas de prédios abandonados, sabe? Por pouco não enxergo a sujeira e o entulho lá dentro.

— Fala mais.

— Elas têm um vazio enorme. Todo o prédio tem cheiro de sujeira, mesmo os já ocupados, mesmo já tendo novos movimentos. Me faz mal pensar neles, nos vácuos e... Como chamamos a coisa de, quando estamos num lugar vazio e dizemos algo que se repete e prolonga, como se conseguisse nos roubar de nós?

— Eco?

— Isso, eco. Me faz muito mal pensar nos vácuos e ecos.

— De toda a existência ou só daqueles prédios?

— De toda a existência?

— Isso. Toda a vida.

— Toda a vida?

— Eco...

— Não quero mais pensar.

Franciely Sampaio
Enviado por Franciely Sampaio em 30/01/2019
Reeditado em 14/01/2021
Código do texto: T6562944
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