série: diálogos | Placas
— Eu já te disse que sinto um vazio enorme vendo as marcas de placas retiradas?
— Não. Por incrível que pareça, não.
— Engraçado, eu te conto tudo!
— Pois é. Tá tudo bem?
— Não sei ainda.
— O que houve?
— Aquelas marcas, às vezes quadradas, às vezes retangulares; umas com sujeira, outras desbotadas. Algumas formam nomes, nomes completos, tão completos que nomeiam todo o entorno, tudo! Mas... São só as fachadas de prédios abandonados, sabe? Por pouco não enxergo a sujeira e o entulho lá dentro.
— Fala mais.
— Elas têm um vazio enorme. Todo o prédio tem cheiro de sujeira, mesmo os já ocupados, mesmo já tendo novos movimentos. Me faz mal pensar neles, nos vácuos e... Como chamamos a coisa de, quando estamos num lugar vazio e dizemos algo que se repete e prolonga, como se conseguisse nos roubar de nós?
— Eco?
— Isso, eco. Me faz muito mal pensar nos vácuos e ecos.
— De toda a existência ou só daqueles prédios?
— De toda a existência?
— Isso. Toda a vida.
— Toda a vida?
— Eco...
— Não quero mais pensar.