Sapiência

Quem somos nós, senão carne que apodrecerá um dia, encaixotados e com terra ao nosso redor? Quem somos nós para compreender o incompreensível? A gota de orvalho desliza sobre a pétala da flor, em uma manhã fria, a pétala se envaidece, suspira e agradece por mais um dia. A borboleta saiu hoje de seu casulo, olhou para suas belas asas, se envaideceu, suspirou e agradeceu por mais um dia. A casca do ovo da pata se quebrou, e aos poucos o patinho saiu lá de dentro. Sentiu o ar puro passeando por seu corpo, se envaideceu, suspirou e agradeceu por mais um dia. Ao chegar o verão, a formiga saiu de seu formigueiro, sentiu a natureza pura sobre seus minúsculos pés, se envaideceu, suspirou e agradeceu por mais um dia. As árvores sentiram o vento sobre suas folhagens, se envaideceram , suspiraram e agradeceram por mais um dia. O homem acordou atrasado, xingou o motorista que não parou o ônibus para ele, se irritou com o raio do sol sobre seus olhos, se irritou por estar cedo demais para ele, irou-se, xingou uma palavra qualquer, estava ocupado e atrasado demais para agradecer por mais um dia. Repito, quem somos nós, senão carne que apodrecerá um dia, encaixotados e com terra ao nosso redor? Pobre homem! Onde está sua sapiência?

Amanda K Abreu
Enviado por Amanda K Abreu em 27/01/2019
Reeditado em 27/01/2019
Código do texto: T6560828
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