Uma história de príncipe sem princesa encantada ou desencantada

E eis que há sessenta e três anos, pelas mãos da parteira Tindole, nasceu na Fazenda Pilões u'a bela criança que veio para contrariar o mundo. Rio, em vez de chorar, para espanto das primas que já o vaticinavam um safado de marca maior. A sua mãe, ainda em estado de êxtase, pois o rebento lhe parecia um príncipe zárabe, soprou um desconjuro quando o menino, que mal abrira os olhos, perscrutava curioso o ambiente, detendo-se nos fartos seios de sua prima Carlinha, gritando em júbilo:

- Quero mamar! Quero mamar!

- É um príncipe - disse a sua mãe.

- É um tarado! - vaticinou a parteira Tindole que ainda lavava suas partes íntimas e sentiu uma pequena, mas significante ereção.

Seu pai largou a lida do campo, depositou a enxada num canto da sala, entrou no quarto entrou no quarto, olhou o rebento meio contrariado e saiu resmungando:

- Esse aí vai dar trabalho! Esse aí vai dar trabalho!

Meteu-se num copo de cachaça, acendeu um cigarro de palha, olhou para o horizonte e viu um lindo pôr de sol por detrás do Cruzeiro dos Montes. Então resmungou sublimado:

- Esse corno vai ser poeta!