Um estado de tristura
A paisagem era cinza. Rios, mares, florestas, céus... Tudo era cinza.
A cidade, um amontoado de concreto frio... E cinza. Os pássaros acinzentados voavam tão distantes, como se fugissem daquela tristeza sem cor e sem vida.
Vida... Onde estaria a vida? Seus olhos lacrimejantes deixaram de procurá-la há tempos. Acostumaram-se à penumbra, ao dissabor, à apatia. Foi-se há tempos a última fagulha de paixão, o último sopro de alegria, o êxtase das novidades, o último brilho de encantamento. Viraram cinzas. O que restava era um caminhar em solo arenoso e seco, demasiado sofrido e interminável.
Queria elevar-se e transpassar o cinza das nuvens carregadas, libertando-se das correntes que a prendiam a uma terra esgotada.
Esperava por uma rendição, sem saber de onde.
Esperava ver novamente as cores, sem acreditar que o arco-íris um dia pudesse reaparecer. Esperava pela branca paz, pelo alegre amarelo, pela força do vermelho, pelo vibrante laranja, pelo apaixonante roxo, pelo calmo azul, pela verde esperança... Mas a vista, descrente e embaçada, teimava em só enxergar o chato e entediante cinza.
Não havia mais fuga. Que a sorumbática caminhada findasse rapidamente então. Esse era o pilar do seu último desejo; O cinza escuro e solitário dos sete palmos abaixo do chão.